A proposta de W é, à primeira vista, até simples. Mas não se engane: em poucos episódios, ela se revela muito mais complexa do que parece. A protagonista, Oh Yeon Joo, é uma cirurgiã comum — ou pelo menos acredita nisso. Ela é filha de Oh Seong Moo, um cartunista famoso, criador de uma série de quadrinhos extremamente popular chamada W. O problema começa quando seu pai desaparece misteriosamente, pouco antes de finalizar o último capítulo da história.
Enquanto o procura em seu estúdio, Yeon Joo é, de forma completamente inexplicável, sugada para dentro da narrativa do quadrinho.
Sim, literalmente dentro da história.
Lá, ela conhece Kang Cheol, o protagonista da HQ criada por seu pai: um jovem milionário, ex-atleta olímpico, que está tentando sobreviver após uma tentativa de assassinato. A partir desse momento, a linha entre o que é real e o que é ficção começa a borrar.
W foi lançado em 2016, e isso fica bem claro em vários detalhes engraçados: celulares Samsung J6 Prime (que já tive, aliás), calças skinny masculinas bem… skinny demais, figurinos que hoje soam meio caricatos.
Falando da série em si: é divertida, prende bastante, e o suspense realmente funciona. O plot não é dos mais inovadores — e honestamente, nem muito bom — mas para 2016, ele entrega o que promete. Se você está buscando algo leve e envolvente, com aquele toque dramático exagerado que só K-dramas conseguem oferecer, W cumpre bem o papel.
Dito isso, dos cinco K-dramas que assisti até hoje, W ainda fica no final da minha lista.
Agora, vamos falar do elefante na sala: o romance. Sim, ele existe. Sim, ele é importante para a trama. Mas, convenhamos… algumas situações são forçadas demais. Aquelas cenas de “paixão instantânea em meio ao caos” que mais parecem ter saído de um fanfic mal diagramado. O relacionamento entre os protagonistas acontece rápido demais, sem construção emocional sólida o suficiente pra fazer a gente torcer de verdade pelos dois. A sensação é que o roteiro empurrou o romance goela abaixo só pra atender a uma expectativa básica do gênero.
Na minha opinião, a série teria funcionado bem melhor se deixasse o romance entre Kang Cheol e Yeon Joo como um subplot discreto, em vez de colocá-lo como motor principal da narrativa. O mistério envolvendo o assassino, o universo do quadrinho se sobrepondo ao real, as discussões sobre livre-arbítrio e criação… tudo isso é muito mais interessante. Pena que ficou em segundo plano.
Preciso destacar uma atuação que me chamou atenção: Kim Eui-sung (Oh Seong Moo) está simplesmente incrível. Ele consegue transmitir aquele ar misterioso e um tanto perturbador do personagem com perfeição.
Já Lee Jong-suk (Kang Cheol) me deu um pouco nos nervos… mas é 2016, vamos dar esse desconto pra ele.
⚠️ Aqui, nesta seção há spoilers! Selecione para ler:
Uma parte que me deixou completamente obcecado foi aquela reviravolta bizarra e genial em que Seong Moo, pressionado a dar um rosto ao assassino da HQ, simplesmente… dá o próprio rosto a ele. Sim, ele entrega sua identidade ao vilão — e, como consequência, perde o próprio rosto no mundo real. É grotesco, surreal, simbólico e profundamente perturbador.
"Absolute cinema," eu disse em voz alta, me levantando do sofá e aplaudindo sozinho na sala.
Simplesmente incrível.
Essa sequência, pra mim, é uma das maiores sacadas da série inteira. Uma metáfora visual sobre como um criador pode ser engolido pela própria criação — literalmente se apagar para dar vida ao que construiu. É o tipo de coisa que faz valer a pena ter assistido até o fim, mesmo com todas as falhas e exageros dramáticos.
Ah, eles ficam juntos no final.
Aliás, se você é do tipo que gosta de reconhecer rostos por aí, talvez conheça a atriz que interpreta Yeon Joo de outro lugar: ela também aparece como a Bo Ra do presente no K-drama Garota do Século 20 — aquele final que fez todo mundo chorar. E olha só que coincidência interessante: o ator que interpreta o Sun Jae em Lovely Runner (inclusive, leia minha resenha sobre esse K-drama depois!) também dá as caras nesse mesmo drama.
Em conclusão: W: Dois Mundos é uma série... ok. Não é ruim, mas também não é memorável — pelo menos não pra quem está acostumado com enredos mais amarradinhos. É daquelas histórias difíceis de serem copiadas, com uma proposta criativa e ousada que, apesar de tropeçar, ainda consegue entregar algo interessante.
Se você está atrás de um K-drama mais focado no romance, talvez valha a pena assistir. Mas, sinceramente? Eu não sou muito fã de romance em K-dramas (com exceção de Lovely Runner, que tem um romance maravilhoso na minha opinião), então esse ponto não me pegou. W tenta — e quase consegue — equilibrar suspense e romance, mas em vários momentos parece não saber qual caminho seguir de verdade.
Com 17 episódios de uma hora, é uma jornada longa, com algumas partes bem desnecessárias. Ainda assim, é uma série sólida e divertida, daquelas que te fazem maratonar mesmo quando você percebe que não tá curtindo tanto assim. Vale pela curiosidade e pelo conceito.
E é isso, né? No fim das contas, W: Dois Mundos é uma experiência curiosa — nem perfeita, nem esquecível. Só… W. Se você curte histórias que brincam com o limite entre realidade e ficção, talvez valha o play. Mas se veio só pelo romance… talvez seja melhor ir com o coração preparado (ou procurar outro K-drama).
Respondendo à pergunta: vale SIM assistir — não porque seja uma obra-prima, mas porque é uma série legalzinha, divertida, cheia de reviravoltas e momentos meio caóticos que, de algum jeito, funcionam.
Se você curte um pouco de suspense com um toque de romance e não se importa com umas decisões meio malucas no roteiro... dá o play sem culpa.
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