Esse fenômeno descreve vínculos criados por uma pessoa com alguém que, na realidade, ela não conhece, como um ídolo, uma celebridade ou até mesmo um personagem fictício.
Apesar de parecer algo novo, ele é mais comum do que se imagina. Hoje em dia, é fácil se ver envolvido nesse tipo de relação, especialmente no universo do K-pop, dos animes, ou até mesmo com "tiktokers" e criadores de conteúdo em geral. A sensação de proximidade é tão forte que, muitas vezes, esquecemos que essa conexão é, na verdade, unilateral.
Em muitos casos, a forma como a mídia e os artistas se comunicam com o público é cuidadosamente pensada para parecer pessoal e íntima, mesmo que, na prática, estejamos todos recebendo a mesma mensagem.
É o que acontece, por exemplo, com aplicativos como o Bubble for JYPE, onde é possível assinar o chat de um idol de K-pop e receber mensagens que parecem escritas só para você. O sistema insere seu nome automaticamente, criando a ilusão de uma conversa exclusiva.
Então, quando o Bang Chan envia algo como “Juni, como está o clima aí?”, é fácil acreditar, por um instante, que ele realmente digitou seu nome e pensou em você. Mas, na verdade, milhares de outras pessoas estão recebendo exatamente a mesma mensagem, só com o nome trocado.
Relações parassociais são, pasmem... relações sociais falsas.
Cruel, né? Mas é isso mesmo.
Por mais que doa admitir, não é como se o Bang Chan tivesse realmente pensado em você (ouch).
A verdade é que ele nem digitou seu nome, o aplicativo faz isso automaticamente, como um truque de mágica que finge intimidade. E a gente cai direitinho. É como se criássemos um laço com alguém que nem sabe da nossa existência, e mesmo assim sentimos que existe algo ali.
Vou citar um exemplo meu.
Durante a apresentação de “Cinema”, música do Lee Know e do Seungmin, no show do álbum Dominate: Mixtape, que rolou no Nilton Santos no dia 1º de abril de 2025, o Seungmin disse “Shout out to...” e, no telão, começaram a subir milhares de nomes.
Entre eles... estava o meu. E eu? Caí em lágrimas na mesma hora.
Foi automático. Mesmo sabendo que era uma lista pré-programada com milhares de pessoas, aquilo me atingiu de um jeito íntimo, quase como se ele realmente tivesse me notado. E é exatamente aí que está a força das relações parassociais: elas fazem parecer que há uma conexão real, pessoal, especial, quando, na verdade, é só mais uma linha entre fã e ídolo.
Agora você deve estar se perguntando: "é comum ter relações parassociais?"
E a minha resposta é… sim! É muito comum.
Pense comigo: mesmo sabendo que você é apenas um grão de areia entre todos os telespectadores daquele programa, seu cérebro dá um jeitinho de te enganar. Ele te convence de que aquele conteúdo é, de algum modo, feito pra você. É quase como um abraço invisível que a gente quer tanto sentir, que começa a parecer real.
Eu sei, racionalmente, que o Changbin nunca vai olhar na minha cara e pensar: “Ah, a Juni!”
Mas o meu subconsciente? Ah, esse safado jura de pé junto que ele acenou pra mim durante o show. E, sinceramente? Eu deixei ele acreditar. Porque às vezes, a mentira doce de uma conexão é mais confortável que a verdade solitária da distância.
Mas nem por isso são sempre saudáveis. Muito pelo contrário. Em certos casos, as relações parassociais podem ultrapassar o limite da fantasia inofensiva e se tornar uma obsessão. Quem nunca viu aquelas pessoas, daquelas mesmo, que juram que estão casadas com o Jungkook?
“As mídias sociais e digitais não substituem as tradicionais; elas coexistem.”
– Octavio Regalado
O amor, quando não é correspondido, já tende a ser doloroso. Agora imagine quando ele nem sequer tem consentimento da outra parte — quando a pessoa nem sabe da sua existência. Você continua investindo tempo, emoção, energia... tudo em alguém que não tem como te retribuir. Isso não é romântico. Isso é um desequilíbrio emocional.
Porque, no fim das contas, tudo que não é mútuo... não é amor.
“Um relacionamento recíproco é satisfatório e frutífero. Em contraste, interações parassociais não têm futuro algum.”
– Pooja Priyamvada
Muitas vezes, essas relações estão profundamente ligadas à limerência.
“Ai, Juni, quantos termos...” Calma, eu explico.
Limerência é aquele estado intenso de desejo emocional por outra pessoa — geralmente alguém inacessível. É quando você pensa nela o tempo todo, sente borboletas só de ver uma foto, idealiza cada mínimo gesto... e tudo isso mesmo sem ter qualquer tipo de relacionamento real com ela.
É mais sobre a projeção do que sobre a pessoa em si. Você não está apaixonado por quem ela é, mas por quem você imagina que ela seja.
Agora junta isso com a relação parassocial, onde a outra pessoa nem sabe que você existe… e pronto: temos uma receita perfeita para frustração e desgaste emocional.
Pode ser luxúria. Pode ser atração. Pode até ser obsessão.
Mas, a verdade seja dita: não é amor.
Veja bem… você não o conhece.
Você conhece a versão editada, filtrada, construída para o consumo. A persona. O palco. A performance. Mas não os defeitos reais, os silêncios desconfortáveis, os dias ruins, as decisões questionáveis. Você não sabe como ele fica quando está irritado, quando está triste, quando não está performando pra ninguém. Porque isso não é mostrado. Não é acessível.
E como amar alguém que você não conhece de verdade?
O que você sente pode ser forte — eu sei. Pode ser bonito até. Mas é uma projeção, não uma conexão.
Eu digo que sou apaixonada pelo Changbin.
Mas… eu não sou apaixonada por ele. Eu sou apaixonada pela ideia dele. Pelo que ele representa. Pelo que minha cabeça criou.
Eu sonho — com todo o meu ser — em sentir os braços fortes e deliciosos desse homem ao meu redor. Mas isso não é amor. É desejo, é carência, é a minha imaginação tentando preencher um espaço vazio.
E tá tudo bem. Porque somos humanos. E humanos têm buracos no peito que às vezes só uma fantasia consegue tapar, nem que seja por um instante. Mas reconhecer que é uma fantasia… é o primeiro passo pra cuidar de si com mais verdade.
Às vezes, imaginar é gostoso.
É como uma coberta quentinha numa noite fria. A fantasia não machuca — desde que a gente saiba onde ela termina e onde começa a realidade.
Sonhar com o sorriso de um ídolo, com um “oi” no show, com uma notificação no celular, pode trazer conforto.
E tudo bem.
Só não deixe que esse sonho tome o lugar da sua verdade. Porque o amor de verdade — aquele que te vê, que te escuta, que te escolhe de volta — pode até demorar… Mas ele vale muito mais do que qualquer ilusão.
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